A inusitada trajetória de Gomes até o Cruzeiro: ‘Nunca tinha sido goleiro’

A inusitada trajetória de Gomes até o Cruzeiro: ‘Nunca tinha sido goleiro’

4 minutos 21/11/2025

Titular do Cruzeiro na conquista da Tríplice Coroa em 2003, Gomes contou como deu os primeiros passos no futebol. Natural de João Pinheiro, Noroeste de Minas Gerais, ele começou a jogar no distrito de Canoeiros, pertencente a São Gonçalo do Abaeté.

Curiosamente, Gomes não era goleiro, e sim atacante, conforme revelou em entrevista ao Cruzeiro Cast. Na cabeça do então adolescente de 14 anos estava estabelecido o sonho de virar jogador e comprar uma casa própria para a família.

“Não comecei como goleiro. Meu sonho era ser jogador de futebol para dar uma casa à minha mãe. Quando isso veio no meu coração, eu tinha uns 14 anos de idade. Era o único caminho”, iniciou.

“Aí comecei a jogar as peladinhas de fim de semana na vilazinha de Canoeiros, Luizlândia do Oeste, e tudo. Quando começo, era centroavante ou ponta-direita. Rápido, a bola chegava bem dentro da área, esse será o caminho”, continuou.

Gomes no jogo da taça do Brasileirão de 2003 pelo Cruzeiro - (foto: Jorge Gontijo/Estado de Minas - 07/12/2003)
Gomes no jogo da taça do Brasileirão de 2003 pelo Cruzeiro(foto: Jorge Gontijo/Estado de Minas – 07/12/2003)

A inusitada mudança para o gol

Somente em 1998, quando tinha 17 anos, é que Gomes resolveu ser goleiro. Ele já havia se mudado para Sete Lagoas, a 70 quilômetros de Belo Horizonte. Tudo aconteceu por necessidade da equipe amadora do bairro onde morava.

“O tempo foi passando, fui para Três Marias e depois Sete Lagoas. Eu já tinha 17 anos de idade, e o pessoal precisava de um goleiro para um torneio de futebol de areia. Eu estava inscrito no time do bairro, Belo Vale, em Sete Lagoas”.

“O jogador amador trabalha também. O goleiro que era para ser titular estava trabalhando. O pessoal pensou: ‘poxa, e aí? Como vamos fazer?’. Eu falei: ‘eu jogo no gol’. Nunca tinha jogado no gol! E aí começou”.

Gomes, ex-goleiro do Cruzeiro

Gomes em visita à redação do Estado de Minas em 2004 - (foto: Arquivo/Estado de Minas)
Gomes em visita à redação do Estado de Minas em 2004(foto: Arquivo/Estado de Minas)

A ida para o Cruzeiro

Com mais de 1,90m de altura e bastante determinado nos treinamentos, Gomes foi requisitado no futebol de várzea sete-lagoano. Entretanto, o sonho dele era se profisionalizar no clube do coração, o Cruzeiro.

Em Sete Lagoas havia uma escolinha da Raposa, porém com mensalidade para os alunos. Sem ter condições de arcar com os valores, Gomes pediu uma oportunidade – que foi aceita.

Aprovado no teste, o goleiro rapidamente foi incorporado ao Democrata de Sete Lagoas. Em um jogo contra o Cruzeiro, a equipe levou 12 gols. Mesmo assim, Gomes teve boa atuação, a ponto de ser lembrado por um funcionário da base celeste.

“Em 2000, o Cruzeiro precisava de um goleiro 1981 para ser o reserva do júnior. E tinha o finado Fausto Silva, da base, um cara muito importante na minha vida”.

“Na época, o Faustão falou assim: ‘estamos precisando do goleiro (nascido em) 1981. Entra em contato com o pessoal de Sete Lagoas. Gostei daquele goleiro’. Os caras ainda falaram: ‘poxa, mas ele tomou 12 gols’. Ele respondeu: ‘se não fosse ele, tinham tomado 30”.

Gomes, ídolo do Cruzeiro

Ex-goleiro Gomes em participação no Cruzeiro Cast - (foto: Reprodução/Cruzeiro)
Ex-goleiro Gomes em participação no Cruzeiro Cast(foto: Reprodução/Cruzeiro)

Heurelho virou Gomes

Faustão, inclusive, foi o responsável por fazer Heurelho da Silva Gomes adotar o sobrenome Gomes no futebol.

‘O Faustão disse para mim: ‘como que o Galvão Bueno vai narrar o seu jogo? Heurelho sai do gol. Não tem como!’ Aí ele perguntou. ‘Como é seu sobremome?’ ‘Da Silva Gomes’, eu respondi. Daí ficou Gomes”.

Gomes, campeão da Tríplice Coroa pelo Cruzeiro

Antes de ficar em definitivo no Cruzeiro, Gomes havia sido aprovado em testes no CRB e no Guarani. Ele chegou a viajar a Campinas para assinar com o Bugre, mas o sonho de atuar pela Raposa o fez mudar de ideia.

“Meu empresário me disse: ‘fala que está vindo buscar a documentação em Belo Horizonte e volta depois’. Nunca mais eu voltei. Fui muito bem no jogo do Cruzeiro em Januária e acabei aprovado para integrar a equipe júnior”, recordou.

Estreia do goleiro na Raposa

Gomes sentiu câimbras em sua estreia pelo Cruzeiro - (foto: Jorge Gontijo/Estado de Minas - 04/09/2002)
Gomes sentiu câimbras em sua estreia pelo Cruzeiro(foto: Jorge Gontijo/Estado de Minas – 04/09/2002)

Nascido em 15 de fevereiro de 1981, Gomes disputou o primeiro jogo oficial pelo Cruzeiro em 4 de setembro de 2002, na vitória sobre o São Paulo, no Independência, em Belo Horizonte, pelo Campeonato Brasileiro.

Bancado pelo técnico Vanderlei Luxemburgo, o então jovem de 21 anos teve atuação bastante elogiada diante de um adversário que contava com os meias Kaká e Ricardinho e os atacantes Reinaldo e Luís Fabiano.

Devido à tensão da estreia – o Independência recebeu mais de 20 mil torcedores em uma noite de quarta-feira -, Gomes sentiu câimbras aos 12 minutos do segundo tempo, dando lugar a Alexandre Fávaro.

O Cruzeiro, que vencia por 2 a 0 – gols de Marcelo Ramos e Luisão -, sofreu um gol de Luís Fabiano. Porém, Fábio Júnior marcou por cobertura e fechou o placar no Horto em 3 a 1.

Carreira vitoriosa

Em quase dois anos como titular do Cruzeiro, Gomes ganhou quatro títulos: dois Campeonatos Mineiros (2003 e 2004), uma Copa do Brasil (2003) e um Campeonato Brasileiro (2003).

Ele foi carinhosamente apelidado de “Homem-Borracha” pelo narrador Alberto Rodrigues por causa da elasticidade com os braços para fazer as defesas. Ao todo, o ex-camisa 1 jogou 110 vezes pela Raposa.

Na sequência da carreira, Gomes jogou no PSV Eindhoven (Holanda), Tottenham (Inglaterra), Hoffenheim (Alemanha), Watford (Inglaterra) e Seleção Brasileira. Na Europa, conquistou quatro troféus do Campeonato Holandês e um da Taça dos Países Baixos.

Segundo o site OGol, Gomes disputou 594 jogos oficiais em 18 anos no futebol profissional. O goleiro pendurou as luvas em 2020, aos 39 anos, a serviço do Watford. Hoje, atua como empresário de jogadores.

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