Início » Como era o ambiente com Sampaoli no Atlético? Veja relatos
“Intenso”, “insuportável”, “resenha” e “fenômeno”: ao longo dos anos, não faltaram adjetivos para quem relatava o dia a dia com o técnico Jorge Sampaoli no Atlético. De volta ao clube, o argentino despertou amor e ódio ao longo da primeira passagem na Cidade do Galo.
O No Ataque traz, a seguir, diversos relatos de jogadores, dirigentes e funcionários que trabalharam com o treinador em 2020. Alguns, inclusive, seguem no alvinegro.
O conhecimento e a intensidade de Sampaoli são praticamente unanimidade entre aqueles que conviveram com o argentino. Alexandre Mattos, diretor de futebol do Galo na época, chegou a dizer que os treinos eram melhores do que os de Pep Guardiola, do Manchester City-ING.
A tática implementada por Sampaoli também foi elogiada por jogadores, casos dos laterais Guga e Guilherme Arana, e do ex-atleta Fábio Santos, hoje comentarista da ESPN. Por outro lado, alguns revelaram a dificuldade no convívio com o técnico, que não teria dado muita abertura aos integrantes da comissão técnica fixa do Atlético.
De toda forma, é fato que dentro de campo o time deu resultados. Ao todo, foram 26 vitórias, nove empates e 10 derrotas. Sob o comando do argentino, o alvinegro foi campeão do Campeonato Mineiro e ficou em terceiro lugar no Campeonato Brasileiro, a três pontos do Flamengo, que conquistou a competição.
Abaixo, o No Ataque separou as principais histórias e os relatos de quem estava no Atlético em 2020. Os ‘casos’ foram contados em diferentes momentos desde aquele ano.
Everson (goleiro do Atlético): “O Sampaoli às vezes te chama para trabalhar com ele. Ele te dá um jogo, se você não for bem, não joga mais. O Sampaoli é assim. Pude presenciar isso trabalhando com ele no Santos e no Galo. Não dá para vacilar. Se ele te traz e te dá confiança, você precisa passar todo o suporte para estar entre os titulares”.
Fábio Santos (ex-lateral-esquerdo do Atlético): “O Sampaoli tem uma gestão horrorosa. Foi muito bem no Santos e no Atlético, já no Flamengo não deu tão certo. Mas isso não significa que o clube não vai abraçar. Te garanto que hoje em dia não tem mais esse tipo de situação. A maneira como os jogadores enxergam o futebol é diferente.
O Sampaoli eu fiquei quatro meses dando bom dia para ele, depois disso eu desisti. Ele olha para você e não dá bom dia. ‘O que esse baixinho está arrumando?’. Os caras já tinham largado com 15 dias, eu ainda insisti. Não era pessoal, era dele mesmo. Tinha dia que ele chegava legal para caramba, contava história, mas no outro dia não falava com ninguém, só xingava.
E a comissão dele é muito legal. Inclusive o ‘boxe’ (Pablo Fernández, preparador físico que deu um soco no atacante Pedro) é gente boa. O Sampaoli era complicado, chega a ser engraçado de tão complicado que ele é. ‘Ele deve estar de sacanagem, é um personagem, não é possível’. É o técnico mais louco que eu trabalhei. E taticamente eu aprendi muito com ele, porque ele é bom treinador. Não deu tão certo no Flamengo, mas tem muita coisa. Ele não dura nos lugares porque o dia a dia é muito desgastante. Você sai do treino com a energia lá em baixo, ele suga tudo.
Tem uma história muito boa. Ele chama o Allan para uma sala, com um computador aberto. ‘Vem cá, vou te mostrar seus lances’. Ele gostava muito do Allan. Ele falou: ‘Eu já assisti filmes de todas as maneiras possíveis, pai matando filho, gente morrendo afogada, as cenas mais tristes, e eu nunca chorei tanto igual chorei vendo os lances do seu jogo’. Ele era isso, tinham momentos bons e ruins.”
Guga (ex-lateral-direito do Atlético): “Ele te exige dar o máximo, de alguma forma. Até mais. O que eu aprendi com ele… sou muito fã do trabalho dele. Para mim é um dos treinadores mais inteligentes. Ele iniciava a semana trabalhando o time adversário, saída da pressão, como os caras iriam marcar pressão, com bloco médio, bloco baixo. Ele espelhava muito com a garotada da base, com sub-23 para fazer o time adversário. Isso ajudava muito porque a gente chegava no jogo e ele falava: ‘eles vão marcar assim, dão espaço em tal lugar, nós temos que explorar tal lugar para fazer o gol neles’.
Treinávamos a semana toda assim, em alta intensidade, e chegava no jogo e acontecia exatamente. Sabe quando você estuda para a prova e cai exatamente aquilo? Chegava no jogo o bagulho fluía. Não é todo jogo que você consegue dar o seu melhor, que se sai bem, mas cara, acontecia. Ele falava: ‘se a gente não marcar em tal lugar, não diminuir tal espaço, vamos tomar contra-ataque e vamos perder o jogo’. Aí no dia seguinte escuta, ‘eu avisei’. E todo dia era vídeo, do adversário e do nosso treino, até o jogo.”
Mariano (ex-lateral-direito do Atlético): “No treino, um atacante nosso que hoje está na Rússia, o Marquinhos. Ele (Sampaoli) põe o Marquinhos no time titular e fala: ‘o goleiro vai quebrar, quero que você fique na frente do lateral para atrapalhar ele, só para atrapalhar, não precisa ganhar.
O goleiro quebrou, e ele (Marquinhos) estava do lado do lateral. O Sampaoli: ‘para, para, quero que você fique na frente do lateral’. Volta lá. O goleiro quebrou de novo, e o Marquinhos estava do lado. O Sampaoli disse: ‘ei Marquinhos, pense um pouco, tu é burro? Fica na frente dele’. E aí todo mundo começou a rir. Ele tinha essas coisas de gritar, não estava nem aí.
O Marquinhos, no outro dia, estava na resenha, aí tinha uma parte que estava tendo uma obra no CT. O Marquinhos pediu desculpa, ele também pediu. O Marquinhos falou ‘nunca aconteceu isso de discutir com treinador’. O Sampaoli falou ‘ah, então eu sou o primeiro, o burro sou eu’. E pegou o celular dele e jogou no barranco lá embaixo (risos).”
Guilherme Arana (lateral-esquerdo do Atlético): “Ele desenvolveu um trabalho muito bom e uma filosofia boa de jogo para a gente. Ele é daquele jeito que a gente acompanha ali na beira do campo, de doideira, mas ele sabe o que faz. É um cara exigente. Fora de campo, na nossa língua de profissional, ele é um ‘resenha’. Ele resenhava bastante com a gente.
Ali na lateral ele gritava bastante e me orientava, mas isso faz parte. Ele me ajudou bastante, me testou em outras posições que eu não estava acostumado e me adaptei super rápido. Gostei muito do jeito que ele me utilizava dentro de campo. Ele foi um grande profissional com quem trabalhei.”
Éder Aleixo (auxiliar técnico do Atlético): “O que eu posso falar desse cara (Sampaoli)?. Ele não falava com ninguém. A gente falava ‘corredor da morte’. E eu fiquei dois meses. Segurei a peteca do Luquinhas (Lucas Gonçalves), que é um cara fantástico.”
Belmiro (ex-massagista do Atlético): “Com ele fui tranquilo, tinha uma relação muito boa, apesar de ele ser muito sério. Mas ele cumprimentava, o trabalho dele era muito intenso, ‘vamos, vamos’. O trabalho dele é muito intenso, intensidade violenta. Ele usava vários campos na Cidade do Galo, fazia tudo. Comigo ele dava bom dia, mas também não brincava com ninguém, é o jeitão dele. Os outros brincavam mais, paravam, brincavam para conversar. Ele trouxe aquele tanto de gente, então ele conversava mais com os argentinos.
O Telê era diferente, jogava buraco. O Sampaoli é diferente, a agitação dele era demais. Dia de jogo era só ele. Reunia só com o pessoal. No intervalo, se estivesse perdendo, ‘está doido’, falava para caramba, só não dava cambalhota.”
Leandro Zago (técnico do sub-20 do Atlético): “Na relação pessoal, o contato com ele (Sampaoli) era praticamente zero, porque ele não cria esse tipo de vínculo com os profissionais do clube. Então, não tínhamos nenhum vínculo, eu nunca tive nenhum tipo de contato. Conversávamos com membros da comissão dele, que foram, inclusive, os contatos quando assumi a equipe. Mas especificamente com ele, nunca houve nenhum tipo de relação pessoal”
Domênico Bhering (diretor de comunicação do Atlético): “Tem um só (que não gostaria de trabalhar novamente), que é mala com força, chato, mas muito chato. É um cara insuportável, independentemente da qualidade que ele tem, porque acho ele bom treinador. É insuportável, que é o Sampaoli. É um cara muito chato. Trabalhei com ele por um ano.
O Sampaoli não dava bom dia para ninguém, não cumprimentava o pegador de bola, o jardineiro, e os jogadores também não. (…) Ele proibiu o Éder Aleixo de assistir ao treino. O Éder Aleixo, não é o zezinho da esquina. Ele era desse nível.”
Alexandre Mattos (ex-diretor de futebol do Atlético): “Dentro de campo é um fenômeno. O treinamento é muito parecido ou até melhor do que o do Guardiola. Eu fui lá levar o Gabriel Jesus (ao Manchester City) e vi uma semana de treino. Do Sampaoli é igualzinho. Muito diferente da maioria dos treinadores. Da linha do El Loco Bielsa. O cara é fantástico taticamente.
Na relação, principalmente com os profissionais. Não com os jogadores, ali é até tranquilo. Tem gente que gosta e tem gente que não gosta. Se pegar o Arana e o Savinho vão falar que amam ele. Se você for em outro que ele tirou, não vai gostar. É normal. Mas ele tem o jeito particular dele. Deu muito confronto, mas no final, depois de tantos confrontos, com esse perfil que ele tem, se você ficar encolhido ele monta. Dei uma crescida no final, então ficou uma relação boa.”
Lásaro Cândido (ex-vice-presidente do Atlético): “O técnico chegou ao Atlético trazendo quase que uma família (cinco pessoas, incluindo um “gerente”, cujas funções não eram bem esclarecidas). Logo de início, mostrou seu perfil, exigindo gratificações especiais, em total desarmonia com as gratificações dos jogadores, além de se isolar num grupo de “empregados” seus (sua equipe) e participar com sua turma das indicações e do processo de contratações.
Chegou a exigir (e conseguir) a demissão de um antigo roupeiro da equipe profissional, com a justificativa que “falava muito alto”. Trata-se de um roupeiro antigo e muito querido no profissional e que conviveu com gerações de jogadores espetaculares que passaram pelo Galo.
Em relação à utilização dos jogadores da equipe, desprezou atletas que estavam no elenco, recomendando imediata rescisão, empréstimo etc, mas que posteriormente alguns desses jogadores passaram à titularidade da própria equipe por ele montada.
Além disso, exigiu a contratação de determinados nomes. De outro lado, é necessário realçar que o “modelo de jogo” praticado por Sampaoli, com o time tendo o predomínio das ações em campo, há a necessária exigência de entrega absoluta dos jogadores na preparação física, psicológica e especialmente pela cumplicidade de todos do grupo ao objetivo comum.
Tendo o comandante comportamento individualista e especialmente desprezo com o que exige dos jogadores, era evidente o descompasso do discurso à prática, resultando em consequência na queda subsequente de produção da equipe.
Na época das festanças do técnico, com desprezo às regras sanitárias, defendi a demissão por justa causa do técnico e sua equipe, já antevendo a queda de produção da equipe, especialmente tendo em vista o objetivo da conquista do título do campeonato brasileiro.
É evidente que no modelo presidencial e estatutário do Atlético, apenas o presidente (apoiado pelos novos gestores-patrocinadores do clube) teria essa atribuição e obviamente a responsabilidade dessa importante decisão.
Necessário também pontuar que a demissão do técnico por justa causa (e a cobrança integral da multa rescisória prevista em contrato), poderia sim ter efeito benéfico para conquista do título (os dois primeiros colocados do campeonato brasileiro foram exatamente os clubes que trocaram de técnicos no curso da competição).
Cabe, entretanto, reconhecer que os ônus da demissão do técnico, em caso até da equipe alcançar a mesma posição final na competição (3º colocado), seriam debitados quase que exclusivamente ao presidente do clube. Aliás, na época e até hoje a maioria da torcida atleticana não tem pleno conhecimento das “peripécias” do técnico, o que reforça a dificuldade da decisão radical de demissão do técnico no curso da temporada.
De qualquer forma, é difícil projetar as consequências de medidas drásticas contra o técnico e sua equipe naquele contexto da competição. O certo é que as atitudes irresponsáveis do técnico foram decisivas para a queda de produção da equipe e da perda do título.
Já no final do período da equipe de Sampaoli no Atlético, surgiram notícias de que o técnico já trabalhava informalmente para outra equipe (Olympique de Marseille), culminando no penúltimo jogo do Atlético contra o Sport com o técnico valendo-se de artimanhas para “obter” a suspensão para o último jogo do Galo no campeonato.
O técnico foi recordista de cartões amarelos e suspensões na competição. O capítulo final foi o técnico e seus auxiliares invadindo o campo de jogo com ameaças e palavrões. De qualquer forma, é preciso lançar luzes sobre o jogo de cena do técnico Sampaoli e sua equipe.”
Sérgio Sette Câmara: “Eu conheci o Sampaoli no dia que ele chegou em Belo Horizonte, tivemos um almoço juntos com os investidores que já estavam conosco desde o ano anterior. Decidimos pelo Sampaoli logo depois daquela Copa do Brasil que o Atlético saiu. Os jogadores não criaram muita confiança do Dudamel, porque ele chegou e colocou muitas regras, começou a exigir muitas coisas.
O Sampaoli é um cara muito trabalhador, acordava cedo, quando me ligava era cedo. Tivemos pouco contato porque, precisamos lembrar, ele chegou e logo veio a pandemia. Os contatos eram mais por telefone, mas sempre me tratou bem. É muito prático, direto. Quando ele me perguntava a respeito dos investimentos, aquilo era tratado na mesa com os investidores. Eu falava que ele precisava conversar com o Mattos, que fazia a interlocução comigo e com os investidores. Ele fazia os treinamentos dele blindado. Até por ser um período de transição, por pandemia, tínhamos pouco contato.
Tanto é que o Atlético vinha muito bem no Brasileiro e a gente atendeu muitos dos pedidos dele. Ele é um dos principais responsáveis na montagem daquele time que foi muito bem em 2020 e em 2021, porque o Atlético terminou em terceiro lugar no Brasileiro. Tivemos um problema pontual que foi o fato deles (Sampaoli e comissão técnica) furarem a bolha, pegaram Covid-19, passaram para os jogadores e com isso o Atlético ficou três ou quatro rodadas com o time reserva.
Me lembro bem que na véspera do jogo contra o Athletico-PR, que em tese faríamos três pontos, mas aí jogamos com o time todo reserva praticamente. Naquele momento não foi legal porque abalou um pouco a nossa confiança e vinha de quem estava no comando. Lembro que o Sasha veio falar comigo e ele ficou bem chateado porque tinha acabado de ter uma filhinha. Mas esse ponto não muda minha opinião na parte técnica em relação ao trabalho tático dele.
Entendia que ele gostava de fazer os treinos dele com certa privacidade e que a comissão técnica permanente não participasse, mas tudo bem, eles tinham outros papéis. E o principal motivo dela existir é que quando um treinador sai ela faz a transição. Você precisa ter pelo menos o Lucas Gonçalves para fazer essa transição para ter o minímo de informação.
Mas era muito trabalhador, exigente na contratação de peças, se pudesse contratar a Seleção Brasileira ele contrataria. A gente avaliava da lista que ele mandava, fazíamos uma peneira dentro das condições que o clube poderia pagar. Mas era isso. O Everson veio pelas mãos dele.
É uma pessoa que passa uma personalidade difícil, mas encontramos pessoas assim no dia a dia, na política, na advocacia, no jornalismo. Nem todo mundo é um doce, e às vezes uma pessoa mais diferente, exigente e enérgica é necessária. Como ex-presidente, eu tinha uma boa relação com ele.”
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