Ele substituiu Ronaldo no Cruzeiro e fez mais de 400 gols: ‘Sabia da minha capacidade’

Ele substituiu Ronaldo no Cruzeiro e fez mais de 400 gols: ‘Sabia da minha capacidade’

6 minutos 14/10/2025

Logo após a Copa do Mundo de 1994, conquistada pelo Brasil, o Cruzeiro vendeu Ronaldo, reserva da Seleção, ao PSV Eindhoven, da Holanda, por US$ 6 milhões. Aos 17 anos, o jovem encantou os torcedores celestes com a impressionante marca de 56 gols em 58 jogos. Era preciso, portanto, buscar um substituto que também fosse especialista em balançar a rede.

No Bahia, havia um atacante promissor. Aos 21 anos, Marcelo Ramos (que só incorporou o sobrenome no universo do futebol em 1998, por causa do xará Marcelo Djian) acumulava mais de 100 gols pelo Tricolor. A performance do atacante no Brasileirão de 1994, em que a equipe avançou às quartas de final e perdeu para o campeão Palmeiras, atraiu os olhares do Cruzeiro.

Ronaldo em estreia pelo Cruzeiro - (foto: Arquivo/EM/DA Press)
Ronaldo estreou no profissional do Cruzeiro aos 16 anos, em 1993(foto: Arquivo/EM/DA Press)

“Tinha 21 anos e já era considerado ídolo da torcida do Bahia. Ao término do campeonato, conseguimos ficar entre os oito primeiros. Enfrentamos o Palmeiras e fomos eliminados. Assim que termina o campeonato, recebi uma ligação do meu empresário, Antônio Gustavo, o Guga. O Cruzeiro estava interessado na minha contratação. O presidente Zezé Perrella assumiu o Cruzeiro, foi a Salvador e concretizou a compra”, relembrou Marcelo Ramos, em entrevista ao Cruzeiro Cast.

Marcelo jamais atribuiu a si o “peso” de substituir Ronaldo. Ele preferiu focar na própria evolução para cativar os corações dos cruzeirenses, sem, contudo, pensar que o Fenômeno seria esquecido.

“O Ronaldo saiu pós-Copa de 1994. E eu procurei manter a tranquilidade e ter a responsabilidade de honrar a camisa. Esse peso nunca me preocupou tanto. Sabia da minha capacidade. Obviamente, as características eram muito diferentes. Não vai ter nunca um jogador que faça o que o Ronaldo fez. É muito difícil. Mas eu sabia da capacidade de vencer aqui, como aconteceu”.

Marcelo Ramos

Marcelo Ramos, ídolo do Cruzeiro - (foto: Marcos Vieira /EM/DA. Press)
Marcelo Ramos, ídolo do Cruzeiro(foto: Marcos Vieira /EM/DA. Press)

A virada de chave no Cruzeiro

No Campeonato Mineiro de 1995, vencido pelo Atlético, Marcelo fez seis gols. A “virada de chave” se deu a partir do Brasileirão, em que o Cruzeiro chegou às semifinais. O embate inesquecível ocorreu em 1º de outubro, contra o Botafogo, diante de 34 mil pessoas no Mineirão. Com três gols do Flecha Azul e dois de Paulinho McLaren, a Raposa ganhou por 5 a 3.

“Esse jogo foi a mudança de chave da minha relação com o torcedor e a imprensa. Já tínhamos um time forte e competitivo com o seu Ênio Andrade. Mas esse jogo eu só não fiz chover. Taticamente fui muito bem. Fisicamente, estava voando. Fiz dois gols logo no começo do jogo, o Botafogo vira para 3 a 2, e a gente retorna. Tínhamos uma sintonia muito grande ali na frente, eu, Roberto Gaúcho e Paulinho McLaren. Eu fiz três ou quatro gols, e o Paulinho fez dois – acabaram dando um gol para ele, o que foi muito bom também”.

Devido à atuação de gala, Marcelo recebeu a única convocação para a Seleção Brasileira. Ele ficou no banco de reservas na vitória por 2 a 0 sobre o Uruguai, em 11 de outubro de 1995, na Arena Fonte Nova. Os dois gols foram justamente de Ronaldo.

“Depois desse jogo, eu chego ao vestiário e recebo os parabéns de todo mundo. Fui para casa e logo recebo a ligação do Benecy Queiroz, nosso supervisor, de que estava sendo convocado para a Seleção Brasileira principal. A única convocação que está marcada para a minha vida por um grande jogo e um grande campeonato”.

Marcelo Ramos

No Brasileirão de 1995, Marcelo Ramos marcou 14 gols. O Cruzeiro foi eliminado nas semifinais ao empatar duas vezes com o Botafogo, que viria a ser campeão em cima do Santos. O Glorioso levava vantagem em razão da campanha superior na primeira fase.

Marcelo Ramos em ação pelo Cruzeiro na temporada 2003 - (foto: Jorge Gontijo/Estado de Minas - 26/01/2003)
Marcelo Ramos em ação pelo Cruzeiro na temporada 2003(foto: Jorge Gontijo/Estado de Minas – 26/01/2003)

Multicampeão e sexto maior artilheiro

Marcelo representou o Cruzeiro em quatro passagens de 1995 a 2003 (somadas de forma contínua, duraram cinco anos e meio). Algumas fontes apontam 163 gols em 365 jogos do ex-centroavante, enquanto outras indicam 162 gols em 360 partidas. Independentemente da precisão do dado, ele é o sexto maior artilheiro de sempre e o segundo que mais levantou troféus.

O baiano natural de Salvador foi decisivo em dois dos principais títulos do clube mineiro. Na Copa do Brasil de 1996, fez gols nos dois jogos da final contra o Palmeiras – empate por 1 a 1, no Mineirão, e vitória por 2 a 1, no Palestra Itália. Na Libertadores de 1997, chegou ao time nos mata-matas, após breve passagem pelo PSV Eindhoven, e contabilizou quatro tentos – dois nas oitavas de final, contra o El Nacional (Equador), e dois nas semifinais, diante do Colo-Colo (Chile).

A lista com 14 taças é completada por Copa do Brasil (2003), Campeonato Brasileiro (2003), Recopa Sul-Americana (1998), Copa Ouro (1995), Copa Master (1995), Copa Sul-Minas (2001), Copa Centro-Oeste (1999), Campeonato Mineiro (1996, 1997, 1998 e 2003) e Copa dos Campeões Mineiros (1999).

Jogadores do Cruzeiro comemorando o título da Libertadores de 1997 - (foto: Washington Alves/Estado de Minas)
Marcelo Ramos foi destaque do Cruzeiro na Libertadores e em vitória sobre o Boca na Supercopa de 1997(foto: Washington Alves/Estado de Minas)

‘Decisão tranquila’

Foi exatamente no ano de 2003, o mais vitorioso da história do Cruzeiro, que Marcelo Ramos encerrou o ciclo na Toca. Deu tempo de participar das competições e, desta forma, tornar-se campeão mineiro, da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro.

O ex-jogador ouviu do técnico Vanderlei Luxemburgo que seria uma peça importante no elenco, porém estaria abaixo dos titulares Deivid e Aristizábal. Assim, ao receber uma proposta do Sanfrecce Hiroshima, da segunda divisão do Japão, resolveu aceitar. De janeiro a maio daquele ano, o Flecha Azul tinha marcado quatro gols em 16 jogos.

“O Vanderlei foi muito direto comigo. Disse assim: ‘Marcelo, eu conto com você, vai agregar demais. Mas na minha cabeça estou trazendo o Deivid e o Aristizábal. Eles serão os meus titulares. Não foi essa questão de ficar no banco ou não, só que apareceu a situação de voltar ao Japão e eu aceitei. Imaginei que o ciclo no Cruzeiro estava se fechando. Já tinha conquistado tudo. Poderia dar oportunidades a outros para seguir”, disse o ex-jogador ao Cruzeiro Cast.

“Foi uma decisão tranquila, sem arrependimentos. O próprio Alex brinca que se eu tivesse continuado, chegaria perto dos 200 gols. Mas a minha história do Cruzeiro era pra ser assim. Aquele momento era de seguir a minha vida e sair da Toca. Minha missão estava cumprida. Por isso hoje estou contando essa história”.

Marcelo Ramos

Marcelo Ramos, ídolo e ex-atacante, em entrevista à TV Cruzeiro - (foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro)
Marcelo Ramos, ídolo e ex-atacante, em entrevista à TV Cruzeiro(foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro)

Marcelo Ramos marcou mais de 400 gols

Nascido em 25 de junho de 1973, Marcelo Ramos pendurou as chuteiras em 2012, aos 39 anos. O ex-centroavante acumulou 450 gols em mais de 20 anos de carreira. O No Ataque cruzou os números divulgados pelos clubes com os do site Futebol 80.

  • Cruzeiro – 162 gols
  • Bahia – 128 gols*
  • Santa Cruz – 46 gols
  • PSV Eindhoven, da Holanda – 20 gols
  • Athletico-PR – 17 gols
  • Sanfreece Hiroshima, do Japão – 14 gols
  • São Paulo – 13 gols
  • Ipatinga – 10 gols
  • Palmeiras – 10 gols
  • Atlético Nacional, da Colômbia – 9 gols
  • Nagoya Grampus, do Japão – 9 gols
  • Madureira-RJ – 7 gols
  • Corinthians – 2 gols
  • Araxá-MG – 1 gol
  • Itumbiara-GO – 1 gol
  • Vitória – 1 gol

*O site Futebol 80 listou 445 gols de Marcelo Ramos, sendo 123 pelo Bahia; o próprio clube, no entanto, apresenta o número de 128 gols, fazendo a soma chegar a 450.

Números de Marcelo Ramos pelo Cruzeiro

  • 1995 – 27 gols em 55 jogos
  • 1996 – 31 gols em 40 jogos
  • 1997 – 22 gols em 40 jogos
  • 1998 – 27 gols em 72 jogos
  • 1999 – 25 gols em 66 jogos
  • 2000 – 4 gols em 10 jogos
  • 2001 – 16 gols em 38 jogos
  • 2002 – 6 gols em 23 jogos
  • 2003 – 4 gols em 16 jogos

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