Início » Fórmula do Cruzeiro: desbancar times tradicionais e acumular ineditismos traz nova missão
O torcedor mais otimista do Cruzeiro não imaginaria uma campanha tão estável no Campeonato Brasileiro Feminino. A diretoria tinha sonho alto, mas também não idealizava um cenário tão notável. Investimento, dedicação e trabalho diário fizeram a Raposa desbancar equipes tradicionais, acumular ineditismos e conquistar o vice-campeonato da Série A1. Qual a fórmula? Repeti-la e com certeza aprimorá-la será essencial para a nova missão do clube estrelado: não regredir.
Ano após ano, o Cruzeiro eleva o patamar. Em 2019, o clube estrelado disputava a final da Série A2. Nos três anos seguintes, manteve-se na elite. Em 2023, avançou ao mata-mata pela primeira vez. Em 2024, melhorou a campanha anterior ao se classificar em quinto lugar.
Nesta temporada, cenário completamente diferente. O clube iniciou o planejamento com antecedência, foi ao mercado (contratou 13 atletas e renovou com 15) e investiu cerca de R$ 15 milhões. A atenção do departamento de futebol prometia frutos, mas não tantos em tão pouco tempo.
A comissão técnica parece não ter tido dificuldades para encaixar as peças da engrenagem, e o elenco logo apresentou entrosamento. Na Supercopa, o time se despediu mais cedo, na semifinal, justamente para o Corinthians. Aquela derrota não deixou rastros para o Brasileiro. Na primeira rodada da Série A1, as Cabulosas buscaram virada por 4 a 3 sobre o Grêmio. Ali estava o indício – hoje observável – do que seria o ano celeste.
O Cruzeiro chegou à última rodada com aproveitamento impressionante: 11 vitórias e três empates. Apenas no último compromisso da etapa classificatória a Raposa conheceu a primeira derrota, novamente para o Corinthians. A melhor campanha do clube dizia respeito ao avanço de 2024, em quinto lugar. Ficou para trás.
“Na 13ª rodada invicta, precisando de três pontos para ficar em primeiro e ninguém nos tirar. Nunca foi a meta, não passava nos nossos planos no início da competição… A gente entendia que ia entrar forte para competir. Hoje entrego resultados que não achei que fosse entregar… A gente está vivenciando coisas e fazendo histórias”, disse, naquele momento Bárbara Fonseca, diretora de futebol feminino da Raposa.
Primeira etapa concluída. A meta celeste era finalmente passar das quartas de final – o que não havia ocorrido nos dois anos anteriores. O Bragantino teve o azar de se encontrar com a Raposa, que chegou à semifinal de forma inédita. Depois, as Cabulosas despacharam o Palmeiras com direito a recorde de público do futebol feminino de clubes em Minas Gerais e conquistaram o grande objetivo da temporada: vaga na Copa Libertadores de 2026. A taça da Série A1, então, tornou-se obsessão.
Na coletiva que sucedeu aquela partida, Jonas Urias, técnico do Cruzeiro, pediu para que os responsáveis ‘desfrutassem’ do que estava ocorrendo e destacou o trabalho ‘árduo’ e ‘sem atalhos’ que o clube elabora desde 2019, quando iniciou o atual projeto.
Quis o destino que Cruzeiro e Corinthians voltassem a se enfrentar pelo título do Brasileiro. No primeiro jogo, no Independência, em Belo Horizonte, as equipes empataram por 2 a 2. Na volta, disputada na Neo Química Arena, em São Paulo, nesse domingo (14/9), o Timão levou a melhor, venceu por 1 a 0 e levou o sétimo troféu. Pela primeira vez, a Raposa subiu no pódio da competição.
O tropeço não tem que ser descredibilizado, afirmou Bárbara Fonseca: “Todos os dias a gente reflete sobre nossos processos, tenta entender onde a gente pode melhorar. Mas, como bem disse o Jonas, esse capítulo é parte de uma construção que vai fazer o cruzeiro campeão… Faz parte viver para crescer. No próximo a gente vai entregar uma equipe mais competitiva”.
Na sequência, a dirigente garantiu que o trabalho árduo continuará. A estratégia? Essa terá de ser estudada dia após dia, com ‘autocrítica’, ‘trabalho intenso’ e ‘humildade’.
“Não há um livro escrito de como a gente vai continuar crescendo, porque a gente ajusta a rota o tempo todo. Não dá para explicar aqui o tanto que a gente vem crescendo e como vai fazer pra crescer. É um livro em branco. O futebol feminino é um livro em branco sendo escrito. O jeito do Cruzeiro de fazer o futebol feminino é muito próspero. Em breve a gente vai sair daqui ou de qualquer outro estádio com a medalha de ouro ou a taça de campeão”
Bárbara Fonseca
Com o intuito de explicar o que o Cruzeiro fez e o que deve continuar fazendo para não regredir no cenário nacional, Jonas Urias abusou de substantivos.
“Acho que a fórmula é colocar profissionalismo, humildade, dedicação, coragem, talento. Acho que tratar as coisas no dia a dia com a alma. Fazer todo dia ser um dia que todo mundo dá tudo de si. Jogar muito limpo. Vários elementos que são essa fórmula, essa receita”, iniciou o treinador.
Na sequência, o comandante celeste se declarou à tarefa que carrega: “Liderar as Cabulosas tecnicamente tem sido uma missão extraordinário na minha vida. Sou muito, muito grato. Sou muito feliz aqui. A forma com que nós escolhemos fazer, que nos trouxe até aqui, exatamente por ter ali o elemento da humildade muito presente, nos permite entender que estaremos sempre evolução”.
O técnico já enxerga um futuro promissor. Para além disso, valoriza aqueles que trabalham para que o presente possibilite projeções ambiciosas.
“O futuro das Cabulosas é confiar na solidez do que fazemos, manter sempre uma cabeça humildade, que o crescimento seja permanente. Então, quando a gente se encontrar com o futuro, provavelmente a gente estará mais preparado do que estava hoje. Vamos seguir com essa cabeça. Mais cedo ou mais tarde, talvez daqui a algumas horinhas, todo mundo que faz o futebol feminino do Cruzeiro vai ter esse mesmo sentimento. A gente está fazendo muita coisa bem feita. Muita. Essa humildade vai fazer a gente estar mais preparada”
Jonas Urias, técnico do Cruzeiro
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