Luta do Atlético contra rebaixamento inspirou criação do Probabilidades no Futebol

Para milhões de fanáticos pelo futebol, ele é a fonte da esperança ou o arauto da aflição. Seus números repercutem semanalmente no noticiário esportivo e alimentam entre os aficionados as discussões sobre títulos e rebaixamentos. Mas antes de se tornar uma referência nacional, o site “Probabilidades no Futebol”, do Departamento de Matemática da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), nasceu de um sentimento comum a qualquer apaixonado pelo universo da bola: o sofrimento.

A história do projeto se confunde com a de seu criador, o professor e doutor em matemática Gilcione Nonato Costa, de 54 anos. E o ponto de partida, como ele mesmo revela, em entrevista ao No Ataque, foi a agonia de ver seu time do coração – o Atlético – à beira do abismo.

“A origem foi no ano de 2004, um ano que eu sofri muito como torcedor, meu time estava lutando para não cair para a Série B”, relembra Gilcione.

Naquele momento, a angústia o levou a uma pergunta que se tornaria a semente de tudo. “Eu lutava muito ali, pensava muito nos números. E eu perguntava: qual é a pontuação que tinha que fazer para não ser rebaixado? Essa era a minha dúvida, a minha questão”.

A epifania veio após uma partida decisiva. “Quando houve um jogo, Atlético e São Caetano, o Atlético venceu por 3 a 0 e não foi rebaixado. Voltando para casa decidi criar o site porque via que nos programas esportivos, de uma certa forma, os números não tinham um contexto, uma profundidade na abordagem”.

A motivação, portanto, não era apenas pessoal. Como matemático, Gilcione via uma lacuna na cobertura dos jogos, que tratava as estatísticas de forma superficial. O objetivo se tornou claro. A intenção do professor foi de substituir o “achismo” dos comentários pela ciência, dando profundidade a um debate que, até então, carecia de rigor matemático.

“Nós, que somos matemáticos, quando vamos trabalhar com probabilidade, temos que trabalhar com a incerteza. Meu objetivo foi o de qualificar o discurso, a opinião matemática para que nós [apaixonados por futebol] soubéssemos tratar da incerteza. Esse é o grande ponto”.

Gilcione Nonato Costa, matemático da UFMG

Com o site no ar no ano seguinte, o destino pregou uma peça irônica. Em 2005, os alertas matemáticos de Gilcione não foram suficientes para salvar o Galo. “Infelizmente, com o site feito, meu time caiu”, lamentou.

Imparcialidade dos números

Apesar de ter a trajetória do site marcada pelo sofrimento como torcedor, Gilcione faz questão de ressaltar que a paixão clubística não interfere na precisão do trabalho. Para o matemático, os números são soberanos e imparciais.

“Não posso negar a minha origem no esporte, a minha paixão por um time de futebol em Belo Horizonte, mas isso não interfere em nada no meu trabalho”, garante. O especialista explica que, no campo das probabilidades, não há espaço para clubismo.

“As pessoas que me conhecem, entendem que posso ter um time, mas trabalho com a matemática. Quando você fala em números, em cálculos, você fica imparcial. Você fica honesto nos cálculos”.

Ao longo dos anos, o site cresceu em popularidade entre os torcedores e também se tornou um projeto de extensão da UFMG, cumprindo um papel que vai além do esporte. “É muito importante o nosso projeto porque ele consegue divulgar a matemática”.

“A maioria não gosta de matemática. E o futebol é um assunto nacional e todo mundo discute futebol. Então, você alia as duas coisas e consegue aprender matemática pelo futebol. Esse é o nosso objetivo”.

Assista à entrevista completa: