Modelo Corinthians: qual a fórmula da principal equipe no cenário feminino? < No Ataque

Modelo Corinthians: qual a fórmula da principal equipe no cenário feminino? < No Ataque

6 minutos 13/09/2025

Com certa tranquilidade, o Corinthians carrega o status de projeto mais tradicional do futebol feminino nacional. Os cinco títulos da Copa Libertadores e os seis do Campeonato Brasileiro Feminino são conquistas que demonstram a estabilidade da equipe. E qual a fórmula? Quais fatores fazem do Timão a referência?

A trajetória do Corinthians

A atual história do Corinthians se iniciou em 2016, ano em que o clube fechou parceria com o Audax para disputar o Brasileiro. A eliminação na segunda fase não acabou com o projeto, que alcançou a final na temporada seguinte – derrota para o Santos. No mesmo ano, consagrou-se campeão da Libertadores. Em 2018, o Timão deu fim à parceria e conquistou o primeiro título da Série A1.

Em 2019, quando a competição nacional ganhou o atual formato, o Corinthians novamente chegou à decisão, mas perdeu para a Ferroviária. A partir de 2020, a equipe paulista não deixou nem vestígios e papou todos os títulos do Brasileiro. Em 2019, 2021, 2023 e 2024, também conquistou a América. Sem contar as outras taças que compõem o mural do clube: três da Supercopa (2022, 2023 e 2024) e quatro do Campeonato Paulista (2019, 2020, 2021 e 2023).

“Existiu sempre uma projeção”

Percepção de futuro, investimento e projeção são alguns dos fatores que alavancaram o Corinthians. Cris Gambaré é um dos rostos do projeto. A ex-diretora, atual coordenadora de Seleções Femininas da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), chegou à equipe feminina do Timão em 2015, quando a modalidade não era pauta na maioria dos clubes brasileiros. Ter o faro de identificar o promissor mercado ainda naquele momento rendeu fartos frutos. Em entrevista recente ao Uol, a dirigente comentou o crescimento.

“Houve uma ascensão do trabalho. Houve, lógico, as metas que nós colocamos e os ganhos dentro de campo. E aconteceram as buscas fora de campo: desde a profissionalização, a vendas de ingresso, um departamento sustentável. Então, existiu sempre uma projeção, sempre um planejamento a mais após cada ano para que conseguisse realmente fazer o melhor”

Cris Gambarré, coordenadora de Seleções Femininas

A declaração da dirigente pode ser exemplificada de diferentes maneiras. Em 2020, o Corinthians profissionalizou todas as atletas. Paralelamente a isso, o departamento de comunicação criou estratégias para aproximar o público. Não à toa a equipe paulista é dona do maior público do futebol feminino no país: em setembro de 2024, 44.529 pessoas estiveram na Neo Química Arena para assistir à vitória por 2 a 0 sobre o São Paulo, pela final do Brasileiro.

Cris Gambarré recebeu convite da CBF para se tornar coordenadora de Seleções em março de 2024. Naquela época, deixou o Corinthians com “quase 150 pessoas, entre atletas de base, profissional e a parte de estrutura, comissão e administrativo”. Ainda segundo a dirigente, no início do projeto corintiano, o departamento de futebol era composto por 23 jogadoras e 10 profissionais da comissão.

“Pessoas que realmente queriam”

Também ao Uol, a lateral-esquerda Tamires, no Corinthians desde 2019, destacou a ambição daqueles que iniciaram o projeto: “Acho que o Corinthians construiu um departamento muito sólido desde lá de trás quando começou, vindo de pouquinho em pouquinho, com os pés no chão, sabendo da seriedade e tendo pessoas que realmente queriam fazer o futebol feminino crescer”.

A meia-atacante Gabi Zanotti, que defende a equipe paulista há sete temporadas, deu ênfase à seriedade das atletas: “Acho que a nossa mentalidade e o nosso comportamento no dia a dia porque não é na competição que a gente ganha, é no dia a dia de treinos. O quanto a gente compete nos treinos acaba elevando o nível da nossa companheira”.

A opinião da torcida

O No Ataque consultou torcedoras que acompanham a equipe feminina do Corinthians de perto há alguns anos. Dois são os fatores destacados por elas: enxergar potencial quando a modalidade não era discutida e apoio da torcida.

Barbara Ferreira

A comunicóloga Barbara Ferreira, de 31 anos, argumentou que o tempo e a maturidade explicam o sucesso do Corinthians.

“É tempo. O pessoal fala muito ‘ah, o Corinthians é diferente dos outros times, está muito acima’. Mas eu acho que é tempo de projeto. Nenhum time tem um projeto (tão longo), talvez só a Ferroviária, que não está disputando agora. É um projeto de muito tempo, não nasceu ontem. Isso faz com que tudo seja mais bem estabelecido… Quanto mais tempo, mais maturidade vai criano, isso faz com que o time se destaque nos campeonatos”

Barbara Ferreira, comunicóloga

Quando o assunto é o crescimento do futebol feminino, o clubismo não tem espaço. Barbara Ferreira comentou a importância de acreditar em algo mesmo que não dê retorno imediato.

“De 2022 para cá, os campeonatos ficaram mais equilibrados. Desde 2022, aquela final contra o Inter, já foi muito equilibrado. E o Corinthians mantém o projeto. Acho importante o Cruzeiro manter o projeto, o São Paulo, todos os times. Projeto do Cruzeiro chegou a uma final muito rápido, tem que continuar, os outros times têm que continuar. O Corinthians perdeu e não desistiu. O Inter chegou e depois acabou, foi esfarelando. Não pode acontecer com o Cruzeiro, se vier a perder ou ganhar”, seguiu.

A comunicóloga também abriu margem para os adeptos: “A diferença do Corinthians para os outros é o tempo, a seriedade com que foi tratado e, obviamente, o apoio da torcida”.

Leticia Lazaro

Sair na frente, abrir portas para profissionais dedicados e alimentar uma mentalidade vencedora são atributos destacados pela jornalista Leticia Lazaro, de 28 anos.

“O Corinthians tem muito mérito em ter visto um mercado possível quando poucos times viram. Isso fez com que ele saísse na frente de todo mundo em tempo, expertise, conexão com a torcida e em competência. Ter um departamento estruturado e comandado por pessoas competentes fez com que o Corinthians desse muitos passos na frente e conseguisse colher os frutos”

Leticia Lazaro, jornalista

O Timão conta com atletas experientes, como Tamires e Zanotti, citadas anteriormente. A convivência com jogadoras que têm o histórico de campeãs influencia positivamente as jovens, alegou Leticia: “Chegou ao topo, mas se manteve, que acaba por ser ainda mais dificil e importante. E isso é graças à mentalidade vencedora no clube e principalmente das atletas. As jogadoras que já ganharam tudo na carreira estão sempre passando pra frente essa mentalidade e fazem com que as coisas se mantenham”.

A jornalista também deu ênfase ao suporte dos torcedores e salientou como a cobrança é essencial para manter o alto nível: “Acho que também é importante ter uma torcida presente e vigilante. Muita gente diz que os corintianos são chatos, mas a gente sabe muito bem o quanto a modalidade é frágil, por isso estamos sempre prontos pra cobrar e de olho os passos da diretoria e da gestão”.

Corinthians x Cruzeiro

Neste domingo (14/9), a partir das 10h30, o Corinthians será desafiado. O Cruzeiro, sensação da temporada, buscará na Neo Química Arena, em São Paulo, título inédito do Brasileiro Feminino. No primeiro jogo, disputado no Independência, mineiras e paulistas empataram por 2 a 2. Portanto, alcança a taça a equipe que vencer – nova igualdade leva a decisão para os pênaltis.

O retrospecto, assim como o fator casa, é favorável ao Timão. Entretanto, Jonas Urias, técnico da Raposa, avisou que viaja à capital paulista para buscar o título.

Ano após ano, o Cruzeiro eleva o patamar. E, na opinião do comandante, não há quem resista ao crescimento do clube: “É maravilhoso para o futebol feminino… O Lucas (Piccinato, técnico do Corinthians) fala isso, o quão legal é alguém fora do eixo ocupando lugar de destaque… Isso é incrível para a modalidade. Tenho certeza que no fundo todo mundo que acompanha futebol feminino fica feliz quando vê um clube escolhendo fazer as coisas como o Cruzeiro está fazendo… Tenho certeza que em algum lugar os corintianos, as corintianas, os profissionais dos Corinthians olham e falam ‘é muito bom isso que está acontecendo’”.

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